SÃO PAULO FUTEBOL CLUBE

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terça-feira, 11 de dezembro de 2007

O Revolucionário

Artigo da Revista Placar de Outubro de 2007.

É provável que você não note isso na televisão. Mas, se for ao estádio ver o São Paulo jogar, vale a pena grudar o olho em Rogério Ceni. Porque o capitão tricolor está mostrando qual é o futuro da posição de goleiro.

Por Arnaldo Ribeiro e Maurício Barros.

O REVOLUCIONÁRIO

Rogério Ceni é um homem voltado para a família. Obcecado pelo trabalho. Torce o nariz para as modernices que compõem a imagem de dez entre dez jogadores de futebol no Brasil - tatuagens, brincos, grifes, loiras, baladas. E é um baita pão-duro. Ele inspira até hoje as piadas do ex-colega Diego Lugano. As poucas opiniões políticas que emitiu ao longo da carreira dão a entender que seja um eleitor de centro.

Rogério Ceni é um sujeito conservador. Mas bata olhar atentamente ao que esse goleiro faz em campo aos 34 anos de idade para concluir que, futebolisticamente, ele é um tremendo revolucionário. Quando o assunto é pensar o jogo, expandir as possibilidades dentro de campo, Ceni é um guerrilheiro guevariano.

Não se fala aqui especificamente das faltas, que ele cobra com maestria e treina até hoje à exaustão. Essa é a cereja do bolo. A revolução de um soldado só tem a ver com sua participação no jogo de linha. A habilidade que Rogério Ceni tem com os pés, a facilidade de controlá-la (a bola, sic), fazer embaixadas, passes curtos e lançamentos longos, todos com enorme precisão, permitem a ele atuar em um jogo como nenhum outro goleiro fez até hoje. "Eu calculo que mais de 50% das minhas participações em um jogo de futebol sejam com os pés", diz o goleiro.

Dois fatores empurraram Ceni para que hoje ele pudesse jogar também fora da área. Primeiro, o dom natural no trato da bola com os pés. Segundo, a mudança da regra do recuo, empreendida pela Fifa. A entidade máxima do futebol decidiu que o goleiro não poderia mais segurar com as mãos uma bola recuada por um companheiro, a não ser que ela venha do peito ou da cabeça - uma rara mudança nas regras do praticamente imutável futebol. Sábia decisão que coibiu a cera e tornou o jogo mais dinâmico. E que foi o sinal verde para que Rogério estudasse maneiras de participar mais do jogo - ficar restrito às traves e à área era pouco para seu talento e sua personalidade ambiciosa. "Em sempre jogo no risco. Bati falta no meu primeiro jogo como profissional. Nunca quis ser apenas mais um".

Primeiro foram as faltas - e Rogério não treinou apenas as cobranças até a perfeição. Bolou também, da sua cabeça, um esquema quase infalível para evitar que levasse gols caso acontecesse algum imprevisto, como a bola bater na barreira ou cair nas mãos do goleiro adversário.

Depois das faltas, ele aperfeiçoou os pênaltis. Não satisfeito, criou também uma linha de impedimento (que segue existindo no São Paulo desde 2003, independentemente de qual treinador esteja no comando), para evitar que seu time tomasse gols oriundos de faltas laterais.

Suas mais recentes inovações (talvez as mais significativas) são: participar ativamente da saída de bola do time, trocando passes com os defensores ou fazendo o lançamento para os atacantes, e jogar na sombra dos zagueiros, fora do gol, como se fosse mais um defensor.

"Se a bola é lançada nas costas do zagueiros do São Paulo, é necessário que o goleiro jogue fora do gol e que saiba atuar bem com os pés, como um líbero. O São Paulo tem o goleiro que mais sabe fazer isso no mundo", escreveu Tostão em sua coluna na Folha de São Paulo.

JOGANDO NA LINHA

Na prática, Rogério Ceni torna-se mais um jogador do seu time, um jogador de linha. Hoje, muita gente, sobretudos os são-paulinos, diz que a equipe não atua no sistema 3-5-2 e sim no 1-3-5-2, com os 11 jogadores e não apenas dez participando efetivamente da partida. "Não é exagero dizer isso. Quando o time está com a bola, Rogério vira um jogador a mais, praticamente um outro zagueiro. Troca passes com os companheiros de área, vira o jogo de lado, atua como um jogador de linha. Ele está à frente do seu tempo, independentemente dos gols de falta", afirma o ex-goleiro e hoje empresário de futebol Gilmar Rinaldi.

Gilmar disse que tentava bancar o jogador também nos seus tempos de goleiro, mas sem o mesmo sucesso. "Eu procurava fazer isso na minha época, jogando às costas de Oscar e Darío Pereyra, no São Paulo, mas não tinha a mesma habilidade do Rogério. Jogava bastante adiantado e corrias riscos. Numa final de Paulista, contra a Portuguesa, quase tomei um gol do meio-campo do Edu Marangon". O são-paulino não esquece...

Gilmar não se arrepende e diz que tinha o apoio do técnico Cilinho. "Ele me dizia: 'Você pode um dia até tomar um gol por cobertura, mas quantos já terá evitado jogando desta forma?'" Rogério Ceni segue o mesmo racioncínio. "Eu jogo com probabilidades. Posso até tomar um gol por estar fora da meta, arriscando uma cobertura. Como posso tomar um gol depois de não ter acertado uma cobrança de falta. Mas quantas vezes isso aconteceu?"

Poucas, Rogério, poucas. Mais precisamente duas vezes. Uma contra o Fluminense, no Rio-São Paulo de 2002, quando Roger (hoje no Flamengo) fez um gol da saída do meio-campo, enquanto Rogério voltava da comemoração de um gol seu de falta segundos antes (cito aqui que o gol foi irregular pois ainda havia jogadores do São Paulo no campo do Fluminense, nota do transcritor). A outra ocorreu contra o Santos, no Brasileirão de 2005. Rogério bateu falta na barreira e, após uma sucessão de erros (Cicinho não matou a jogada, Fabão não fez a linha de impedimento), Geílson marcou no contra-ataque.

Rogério continua praticando as cobranças de falta, mas já não treina na linha, em rachões, por exemplo, para incrementar e aperfeiçoar seu jogo com os pés. Segundo ele, "pela idade, para evitar contusões". Mas até o aquecimento dos goleiros do São Paulo pressupõe jogadas com o pé, para desenvolver habilidades. São quase 30 minutos de bate-bola antes de começarem as defesas.

Saber como Rogério desenvolveu a habilidade com os pés é curiosidade de muito goleiro por aí. O espanhol Palop, do Sevilla, interpelou o ex-são-paulono Luís Fabiano logo que chegou ao clube. "Ele me perguntava qual era o segredo para ele fazer tantos gols de falta. Eu dizia que, além de bater bem, ele treinava muito. O Palop me disse que admira muito essa qualidade do Rogério", diz Luís Fabiano.

OS PROFESSORES

Rogério Ceni tem o dom, é um tremendo estudioso, cria, com inteligência, idéias para aprimorar seu jogo, mas não tirou seus coelhos da cartola apenas de sua cabeça. Seus primeiros professores, aqueles que lhe ensinaram a bater na bola, foram Telê Santana e o ex-treinador de goleiros do São Paulo, Valdir Joaquim de Moraes.

Seus inspiradores são dois goleiros estrangeiros. Do holandês Van der Sar, ele tirou o jogo com os pés, a troca de passes com os zagueiros, o posicionamento de líbero. Do colombiano-argentino Navarro Montoya, ele mirou a reposição, os lançamentos precisos para os lados do campo, além da colocação da meta - e das camisas espalhafatosas com desenhos estranhos...

Navarro Montoya se consagrou no Boca Juniors, da Argentina, de onde vem mais um "admirador internacional" de Rogério Ceni: o atacante Guillermo Barros Schelotto, hoje no Columbus Crew, dos Estados Unidos. "Rogério Ceni é um símbolo histório do São Paulo. Tornou-se famoso no mundo todo por ser um goleiro goleador. Mas debaixo dos paus também é muito bom. Rápido, sabe antecipar a jogada e não salta por saltar, só quando é mesmo necessário", afirma o jogador.

Segundo Schelotto, o jogo com os pés tornou-se fundamental desde a mudança da regra dos goleiros. "Hoje, eles são mais jogadores do que antes. Também destaco a atitude desportiva de Rogério, que sabe ser exemplo. Uma pessoa que mantém a mesma fidalguia tantona derrota como na vitória", diz o atacante argentino.

Haja elogio... Rogério é o libertador dos goleiros, o revolucionário? Um homem à frente do seu tempo? Nem todos pensam assim. Sobretudo quem também ficou famosos por ousar ser algo mais do que um camisa 1, um simples "pegador de bolas".

"Rogério Ceni é um colega que eu respeito. Eu transformei a posição de goleiro e ele seguiu esse caminho. Se fico incomodado que ele tenha me ultrapassado em quantidade de gols? Não sei se é assim. Desconheço como são feitos os cômputos no Brasil, onde se joga a cada três dias. De todas as maneiras, eu converti seis ou sete gols pela seleção do Paraguai e creio que ele não meteu nenhum para a seleção do Brasil".

Já descobriu de quem se trata? Não? Então leia mais um trechinho... "Me encanta que os brasileiros cheguem segundos atrás de Chilavert. Primeiro, sempre, está o paraguaio". Revolucionário por revolucionário, Chilavert quer até ser presidente do seu país. Rogério não tem, pelo menos por enquanto, ambições políticas. Sua missão é virar do avesso a camisa 1. Se é que ele não já conseguiu...

[GOLEIRO DO FUTURO]

O Terceiro Zagueiro

Com o time no ataque, zangueiros (1 e 2) abrem nas laterais e Ceni fica no centro, fora da área, para cortar lançamentos. O avanço dos zagueiros ta´bme torna mais fácil colocar em impedimento os atacantes adversários (3) em um eventual contra-ataque. Ceni faz a sobra.

Ceni fala: "Jogo com probabilidades. Posso até tomar um gol por estar fora da meta, arriscando uma cobertura, mas envito outros atuando dessa forma".

Inspirador: O próprio Ceni.

A linha que não é burra

Em 2003, Ceni cirou um jeito de fazer a linha de impedimento para combater, sobretudo, as faltas laterais, responsáveis por diversas situações de gol hoje em dia. Ele diz uma palavra-chave, normalmente o nome de um jogador do São Paulo, e todo mundo (1, 2 e 3) sai ao mesmo tempo da área, para colocar o adversário em impedimento. É um lance arriscado, mas, quando a bola chega, jogadores adversário (4) parece mesmo estar adiantados. A linha de Ceni sobrevive às constantes mudanças de treinadores no clube.

Ceni não fala: ele não quer "entregar o jogo". Mas, basicamente, funciona assim: quando tem um time baixo em campo (sem Aloísio, por exemplo, e só com dois zagueiros), Ceni arrisca fazer a linha, porque a chance de a zaga cortar as bolas de cabeça é menor. É a questão da "probabilidade".

Inspirador: O próprio Ceni.

O goleiro-linha

Quando não há amrcação sob pressão dos atacantes adversários. Ceni não "quebra" a bola. Sai com ela dominada para fora da área. Ou troca passes com seus defensores (1 e 2), girando a bola, ou lança com capricho para a frente (3).

Ceni fala: "Essa saída depende da presença de companheiros de time que não fujam da bola, que gostem dela, que apareçam para jogar comigo. São os casos do Richarlyson e do Hernanes".

Inspiradores: Navarro Montoya (lançamentos) e Van der Sar (troca de passes com o zagueiros).

A cobrança de falta

Hoje, Ceni parte para uma cobrança de falta até quando um outro jogador vai batê-la, numa jogada ensaiada, por exemplo. Por que tanto risco? Porque ele tem absoluta segurança de que está protegido. Coloca um homem rápido, normalmente um volante (1), na linha do meio-campo e outro (2), alto, normalmente um zagueiro, na linha do seu gol. Esse homem do meio é fundamental. A tarefa dele é se adiantar quando ocorrer um imprevisto para deixar o ataque adversário em impedimento. O zagueiro da linha do gol serve para a pouco provável tentativa de um chutaço de longa distância contra o gol de Ceni. Os demais jogadores (3 e 4) são orientados a fazer falta se a cobrança de Ceni bater na barreira. Ele só levou um gol de contra-ataque nessa situação, contra o Santos, em 2005, pelo Campeonato Brasileiro, quando Cicinho não matou a jogada, após a bola ter batido na barreira, e Fabão não fez a linha de impedimento.

Ceni fala: "todo mundo tem sua função quando eu vou bater uma falta. Mas o homem que tem de deixar o adversário imepdido, caso dê alguma coisa errada, é quem tem a missão mais complicada".

Inspirador: Chilavert (embora Ceni não admita) e o próprio Ceni (no plano para evitar o gol no contra-ataque).

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